segunda-feira, 10 de setembro de 2012

«Da terra e dos livros»

Manuel Hermínio Monteiro nasceu em Parada do Pinhão, Sabrosa - Vila Real, no dia 10 de Setembro de 1952, faz hoje sessenta anos.

Veio dos fundos da terra, mas era um homem urbano. Conversava com os amigos à volta de uma bica na esplanada do café em frente da livraria. Dava-lhes tempo e atenção. Pôs muita poesia a falar, e inventou uma Phala para se falar dela. De toda. A dos versos e as outras, da prosa, das imagens, dos sabores e dos cheiros. Todos o conheciam como editor, mas ele era mais do que isso: tinha intuição e dedo de vedor. Editor, diz o Torrinha, significa originalmente aquele que produz, o que causa, autor e fundador. Tudo isso ele foi. Mas foi também alguém que descobriu e inventou. Descobriu muitos autores e soube encontrar as pessoas certas para, em sintonia com ele, fazerem livros de marca inconfundível, de primeiríssima água. Inventou mil e uma maneiras de dar vida à poesia: nos livros, nas revistas, de viva voz, em sacos de pão e autocarros. E semeou, semeou muito: afectos, ideias, bom gosto, sensibilidade. Fez da amizade um culto, do trabalho uma festa, das causas dos outros uma causa sua.
Por fim, fez nascer uma flor, grande e leve como uma gardénia em página de Proust ou no jardim de uma aldeia da Boémia, e deu-lhe por casa o mundo inteiro e todo o tempo da memória do poema. Chamou-lhe Rosa do Mundo, deixou-nos alimento para dois mil e um dias, e retirou-se. Quando escreveu, sobre uma das primeiras pétalas dessa Rosa, que "poesia e homem criaram uma cúmplice e indissociável relação", era de si que falava. Chama-se Manuel Hermínio Monteiro, e vem ter comigo todas as noites, de cada vez que mudo a fita de marcação do Livro e a deixo ficar na página seguinte, à espera de mais um poema e de mais um encontro.

João Barrento [2001] 

A Escala do Meu Mund
o, Assírio & Alvim, 2006.

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